25 de Junho de 2018
Documento do mês de junho de 2018
Operação “Plus Ultra” – José Chimunga
Os documentos que destacamos no mês de junho são um testemunho da história contemporânea que, para muitos ou para a maior parte de nós, é completamente desconhecida. A inesquecível aventura que viveu José Chimunga, de 12 anos, natural de Angola, da Aldeia de Chicundo, distrito de Bié, representante de Portugal na “Operação Plus Ultra”, no ano de 1968.
A operação denominada “Operação Plus Ultra” teve início em 1963 por iniciativa da Sociedade Espanhola de Radiodifusão e da companhia aérea Ibéria. A operação consistia em promover uma campanha de solidariedade internacional destinada a premiar crianças, dos 8 aos 16 anos, que se destacassem pelos seus valores humanos. As crianças dos países aderentes eram eleitas pelos seus atos de bondade, heroísmo, sacrifício, amor ao próximo, entre outros atos de bravura. Os países participantes na iniciativa eram Alemanha Ocidental, Bélgica, Espanha, França, Itália, Jugoslávia e Portugal.
Em Portugal a “Operação Plus Ultra” foi coordenada pelo Rádio Clube Português (RCP), que divulgava a iniciativa e solicitava aos governadores civis que reportassem notícias sobre crianças que possuíssem os requisitos para se habilitarem ao prémio.
No ano de 1968 as crianças escolhidas usufruíram de uma viagem de férias que se iniciou em Madrid a 3 de setembro, depois seguiram de avião para Roma, onde foram recebidas pelo Papa Paulo VI, depois para Barcelona, Palma de Maiorca, Valencia, Sevilha, Jerez, Cádis, Casablanca, Tenerife, Las Palmas e regressaram a Madrid a 24 do mesmo mês, onde foram recebidos por Franco. A cada criança foi oferecido um enxoval de viagem e, durante a digressão, foram acompanhadas por hospedeiras da companhia aérea Ibéria e por enfermeiras da Cruz Vermelha.
José Chimunga foi distinguido com o prémio “Operação Plus Ultra” pelo seu ato de coragem ao salvar a vida a dois indivíduos que foram atacados por um leão no ano de 1967.
O representante português a quem a imprensa espanhola apelidou de “negrito português” foi, ao contrário dos seus antecessores, notícia de destaque na imprensa. O acontecimento foi utilizado pelo regime como propaganda política para desviar a atenção da realidade colonial que se vivia na época.
Quando regressou a Portugal, depois da viagem, antes de regressar à sua terra natal, Chimunga foi recebido pelo Almirante Américo Tomás, que o presenteou com uma fotografia e uma edição de luxo dos “Lusíadas”, ambas com dedicatória e uma caixa de chocolates.
Segundo a informação remetida pelo Rádio Clube Português ao Governador Civil de Évora o futuro do jovem herói ficou garantido. O Governador do Distrito de Bié enviara um comunicado para ao RCP no qual declarava que o jovem ia ser internado no Colégio de São José, da Congregação “Os Maristas” de Silva Porto, para prosseguir os estudos e realizar o sonho de ser “engenheiro de máquinas”.
Cota: GCEVR/Cx. 411, Z-1/8