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13 de Junho de 2019

Documento do mês de junho de 2019

Neste mês de junho destacamos as comemorações do 7º Centenário das Festas de Santo António de Lisboa (1195-1895) às quais se associou o Congresso Católico Internacional de Lisboa, realizado nos dias 25 a 28 de junho1.

As festas foram organizadas pela Grande Comissão Central de Lisboa, criada para o efeito e instalada a 13 de junho de 1894. Tinha como presidente honorária a rainha D. Amélia, como presidente a marquesa de Fronteira e de Alorna e como secretário António J. Simões de Almeida. Desta comissão faziam parte muitas individualidades da aristocracia como, por exemplo, os duques de Palmela, a duquesa de Ávila e de Bolama e o duque de Loulé e, ainda, políticos, religiosos e outras personalidades como Feliciano Bordalo Pinheiro.

As festas dispunham também de uma comissão executiva formada pelo marquês de Pombal, como presidente, pelo conde de Ávila, como secretário, e pelo conde de Burnay, como tesoureiro, e, ainda, pelos vogais, marquês de Fronteira, Júlio Augusto de Oliveira Pires, e Carlos da Silva Pessoa.

Desde o dia 12 até ao dia 30 de junho, de acordo com o programa, desenrolam-se um leque de iniciativas, tais como: um Grande Cortejo em homenagem a Santo António com carros alegóricos sobre Virtudes, Ciências, Belas Artes, Exército, Marinha, Colónias, Imprensa, Comércio, Agricultura, Pesca e outros, acompanhados por músicos e personagens a pé e a cavalo; o cortejo fluvial no Tejo; o arraial no Terreiro do Paço, decorado para receber as filarmónicas, coros, danças e estudantinas, entre outros divertimentos; uma regata internacional; festa veneziana no Tejo; corridas de touros na Praça de Algés e na Praça do Campo Pequeno; espetáculo de gala no Teatro D. Amélia; batalha de flores; festa da infância, onde foi inaugurado o Asilo-oficina de Santo António (Bairro Andrade); inauguração da Vila de Santo António (situada entre a Junqueira e Santo Amaro); e fogos de artifício.

A par destas festividades realizou-se em São Vicente de Fora, entre os dias 25 e 28 de junho, o Congresso Católico Internacional, enquadrado na dinâmica de fortalecimento do movimento católito inspirado na incíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII. A comissão organizadora foi presidida pelo Cardeal Patriarca, D. José Sebastião de Almeida, e teve como vice-presidente o Arcebispo de Mitilene. Integraram-na outras individualidades como o marquês de Pombal, o duque de Ávila e o duque de Burnay.

Para o congresso foi criado um Regulamento. O seu artigo 1º definia os objetivos, a saber: “reunir os católicos de boa vontade para acordarem nos meios de arraigar a fé, e desenvolver as obras de religião, caridade, educação, associação e liberdade cristã, bem como para se ocuparem das questões sociais que interessam às classes operárias e às desfavorecidas da fortuna, segundo os princípios do Evangelho e ensinos do Sumo Pontífice Romano, o Vigário de Cristo”.

Mas, de acordo com António Ventura2um programa com tal magnitude não deixaria de suscitar reações desencontradas na sociedade portuguesa”. Desde logo houve um ataque anticlerical por parte da imprensa e foi até realizado um congresso anticlerical que decorreu na Federação das Associações de Classe, na rua Benformoso. A maioria eram socialistas aos quais se juntaram, segundo António Ventura, “órgãos de imprensa aderentes como a Vanguarda, A Batalha, onde pontificava Heliodoro Salgado, O Dia, animado pelo republicano e maçon Gomes das (sic) Silva, A Federação, porta-voz do grupo de Azedo Gneco, e dos jornais socialistas relativamente equidistantes entre «possibilistas» e «marxistas», A Voz do Operário e A Obra. De registar ainda a presença do jornal anarquista Propaganda”.

No dia 28 de junho, em simultâneo com o congresso anticlerical, foram provocados distúrbios durante o cortejo quando anarquistas lançaram centenas de impressos com o título «Os Anarquistas ao Povo Trabalhador — Abaixo a Reacção», Suplemento do n° 61 do jornal Propaganda. Tratava-se de um violento artigo defendendo os princípios anarquistas3. Dos distúrbios resultaram várias prisões.

1 – Arquivo Distrital de Évora. Câmara Eclesiástica de Évora. Correspondência.1895 (mç. 81; cx. 14).

2 – António Ventura. A Contestação do Centenário Antoniano de 1895. p. 370 [em linha] [consultado em 27-05-2019] na Internet: https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4936/1/LS_S2_08-9_AntonioVentura.pdf

3 – Ibidem, p. 373.

Esta notícia foi publicada em 13 de Junho de 2019 e foi arquivada em: Documento do mês, Documento em destaque.