6 de Março de 2024
Documento do mês de março de 2024
Procissão de Quinta-Feira Santa
O documento que divulgamos encontra-se no livro 2º de Lembranças da Santa Casa da Misericórdia de Évora, que começou a servir no dia 2 de julho de 1602, dia da Visitação de Maria a sua prima Isabel, atualmente comemorado a 31 de maio. Era provedor Martim Afonso de Miranda, morgado de Oliveira, e findou no mesmo dia e mês do ano seguinte.
O livro servia para os irmãos da Mesa da Santa Casa, como administradores da mesma, registarem os assuntos que tratavam diariamente e as deliberações que tomavam relativamente aos mesmos.
Como estamos em época Pascal selecionámos os assuntos discutidos pela mesa no dia 19 de março de 1603, na presença do provedor. No início da sessão foram aceites para irmãos da Misericórdia Fernão da Guerra, Francisco Correia, barbeiro, e Manuel Gonçalves, sapateiro. Ficou estabelecido que a mesa se reuniria no dia 21, sexta-feira à tarde, para determinar o percurso da procissão de Quinta-feira de Endoenças daquele ano.
Como deliberado, reuniu a mesa, na presença do provedor, no dia 21 de março, ficando registada a ordem pela qual desfilaria o cortejo e qual o percurso do mesmo pela cidade.
Foi estipulada a seguinte ordem para o desfile:
A bandeira da irmandade seguia à frente do cortejo, levada por Dom Francisco de Almeida, e as tochas por Fernão Martins Freire e João Barroso, barbeiro, seguida pelos seguintes vultos:
– O 1o vulto, que era o do horto, levado por António Vaz de Camões, e as tochas por Manuel Chainho e Miguel Rodrigues;
– O 2º vulto, que era a prisão, levado por Manuel Fernandes, sapateiro, e as tochas por Luís Coelho Figueira e Pedro Vaz, carpinteiro;
– O 3º vulto, que era o da apresentação, levado por Roque de Pina, e as tochas por Diogo de Albuquerque e António Fernandes, alfaiate;
– O 4º vulto, que era a coroação dos espinhos, levado por Lourenço Dias, e as tochas por Manuel Pimenta e Estêvão Guerreiro;
– O 5º vulto, que era o ecce homo, levado por Manuel Martins, sapateiro, e as tochas por Duarte Galvão e Manuel Pereira, cerieiro;
– O 6º vulto, que era Cristo [na coluna], levado por Luís de Vila Lobos de Vasconcelos e as tochas por Manuel Rodrigues Seco e Manuel Rodrigues, dourador;
– O 7º vulto, que era a cruz às costas, levado por Domingos Dias, sombreireiro, e as tochas por Agostinho de Moura e Francisco Barreto, ourives.
O crucifixo seria levado por Luís de Miranda, as varas do pálio por Dom Francisco de Melo, Conde de Tentúgal, Francisco de Brito, Lopo Rodrigues Lobo, Jorge de Melo, João Fernandes Rico e André Godinho e as tochas por Miguel Pereira, Pedro Pantoja, António Lopes de Carvalho, Fernão de Lemos, Diogo Passanha, Gaspar Velho, Luís Gomes, António Rodrigues, Luís Antunes, Brás Godinho, Ascenso Fernandes e Francisco Vaz.
A bandeira das mulheres seria levada por Francisco Pereira Falcão e as tochas por Fernão Gonçalves Cogominho e Luís Pires, que vivia no adro.
Iriam 8 pajens repartidos em quatro vultos cantando as ladainhas e os penitentes no lugar do costume, diante do crucifixo.
Ficou assente que o cortejo sairia o mais cedo possível da Casa da Misericórdia pela Rua do Infantes, a Nossa Senhora do Paraíso, dali à Sé pelo cruzeiro direito à Freiria, pela calçada acima iria por detrás da capela-mor da Sé e entraria pela porta traseira e sairia pela nave do meio e pela porta principal. Seguiria pela Rua da Selaria abaixo até à Praça e ao longo de Santo Antão e Rua Ancha. Desceria pela travessa de Pero Rodrigues a Santa Catarina de Sena e tornaria pela travessa de Francisco de Carvalhais acima até à Rua Ancha: Dali à Porta Nova direito a São Domingos e de lá a Santa Clara. Seguiria pela Rua de Alconchel acima até Santo Antão e depois à praça, pela Rua da Cadeia a São Francisco, onde entraria pela porta da igreja e sairia pelo claustro. E dali voltaria para Casa da Misericórdia por Nossa Senhora da Graça.
Cota: Santa Casa da Misericórdia de Évora, liv. 1559, f. 33vº ao f. 35