17 de Maio de 2024
Documento do mês de maio de 2024
O mês de maio é dedicado pela Igreja Católica a Maria, Mãe de Deus. Neste mês divulgamos um documento, datado de 1749, a respeito da existência de duas confrarias que espelhavam a segregação racial e social: a Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Brancos e a Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, erigidas na freguesia de Nossa Senhora da Assunção da vila de Garvão.
As irmandades e confrarias são associações religiosas que tanto podem ser erigidas por religiosos como por leigos. Os fiéis juntam-se para promover determinado culto, tendo de possuir estatutos aprovados pelo ordinário. Algumas estavam associadas às profissões, tais como a dos carpinteiros, votadas a São José, ou a dos músicos, a Santa Cecília. Outras estavam dedicadas aos padroeiros das igrejas, capelas e ermidas. Todavia, a maior parte delas dirigia-se ao Santíssimo Sacramento, às Almas e a Nossa Senhora, entre elas, a Nossa Senhora do Rosário.
As irmandades e confrarias de Nossa Senhora do Rosário caracterizavam-se pela sua transversalidade social. Segundo Jorge Fonseca (2) “na confraria do Rosário de Nossa Senhora recebem-se todos os estados e condições de pessoas, homens, mulheres, grandes, pequenos, pobres, ricos, velhos, moços, livres, escravos, eclesiásticos e seculares, e também os defuntos”. Contudo, acabavam por refletir as fronteiras sociais e mentais existentes, sendo especialmente permeáveis à segregação racial. Assim, foram criadas confrarias separadas para a população branca e para a de cor negra, até para colocar em espaços de sociabilidade diferentes os senhores brancos e os seus escravos negros. Estas confrarias, de acordo com Didier Lahon (1), revelam “a existência de comunidades escravas importantes”, em particular, no Alentejo e no Algarve, em alguns casos, “antes do fim da primeira metade do século XVI”.
Cada irmandade e confraria, para além dos livros onde se encontravam registados os seus estatutos e privilégios, detinha também livros de registo das eleições, das determinações das reuniões, da despesa, da receita e dos bens, que eram verificados durante as visitas pastorais. Nestas visitas, para além dos livros, eram também inspecionados os altares de cada irmandade e confraria, deixando o visitador provimentos para serem cumpridos, como consta neste documento produzido no decurso da visita realizada pelo Arcebispo de Évora, Dom Frei Miguel de Távora.
1 – Lahon, D. (2013). DA REDUÇÃO DA ALTERIDADE A CONSAGRAÇÃO DA DIFERENÇA: AS IRMANDADES NEGRAS EM PORTUGAL (SÉCULOS XVI-XVIII). Projeto História : Revista Do Programa De Estudos Pós-Graduados De História, 44. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/6002. [Consultado em 16-05-2024).
2 – FONSECA, Jorge (2016) “RELIGIÃO E LIBERDADE OS NEGROS NAS IRMANDADES E CONFRARIAS PORTUGUESAS (SÉCULOS XV A XIX). [consultado em 16-05-2024] na Internet: https://run.unl.pt/bitstream/10362/27092/1/Religiao_e_Liberdade_WEB_1_.pdf
Cota: Câmara Eclesiástica de Évora, Visitas Pastorais.