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Notícias

14 de Outubro de 2024

Documento do mês de outubro

Toponímia da cidade de Évora – Largo Dr. Manuel Alves Branco

 

Ao deambularmos pelas ruas de Évora deparamo-nos com os topónimos da cidade inscritos a preto em azulejos de forma oval, pintados a amarelo-torrado, e com a orla listada também a preto. Muitos locais sofreram alteração de denominação, mas, na memória dos eborenses, ainda estão enraizados os topónimos antigos. Para não se perder a toponímia antiga, bem como a relação que os Eborenses tinham ou têm com o espaço urbano envolvente, foram, em alguns casos, colocadas placas retangulares, também em azulejo, com a denominação precedente abaixo das novas placas.

Através da documentação existente no Arquivo Distrital de Évora escolhemos uma personalidade que viveu e teve um papel relevante na cidade de Évora e que, em reconhecimento do contributo que prestou à nossa sociedade, foi homenageado com a atribuição do seu nome a um largo da cidade.

Estamos a falar do Largo Dr. Manuel Alves Branco, antigo Largo da Rampa, onde morava a referida personalidade aquando da atribuição da designação da placa com o seu nome.

Manuel Alves Branco, nasceu a 1 de janeiro de 1852, em Trás-os-Montes, no lugar de Arcos, foi batizado a 4 de janeiro do referido ano na freguesia de Cervos, concelho de Montalegre, distrito de Vila Real. Filho de António Alves e de Catarina Alves, estudou na Universidade de Coimbra entre 1877-1881, formando-se em Medicina.

Segundo a informação que consta no registo de casamento instalou-se em Évora por volta de 1890 para exercer a sua especialidade.

Casou, com 43 anos, na Igreja do Espinheiro, a 4 de setembro de 1895, com Maria da Anunciação Fragoso da Gama, de 61 anos, viúva de João Fragoso da Gama. O casal separou-se judicialmente a requerimento da esposa. O processo cível de separação de pessoas e bens correu no Juízo de Direito da 5ª Vara Cível de Lisboa, sendo a sentença proferida a 28 de outubro de 1896, posteriormente, a 23 de dezembro do mesmo ano, o casal efetuou em Évora, no Cartório do notário Joaquim Maria Pinto, uma escritura de partilha amigável em que acordaram e decidiram separar e dividir igualmente todos os bens, direitos e ações do casal. Com a leitura da escritura de partilha constatamos que o casal possuía muito património o que justifica o facto de Manuel Alves Branco ser citado em muitos documentos como médico e proprietário.

Foi admitido para sócio da Sociedade Harmonia Eborense em 12 de julho de 1897.

A 7 de janeiro de 1899 arrendou o usufruto da Quinta do Espinheiro, filial da freguesia da Sé de Évora, pelo período de 19 anos, pela quantia de 10 mil réis anuais, a José Joaquim Berlim e a sua mulher Senhorinha Rosa Vieira Berlim. A 15 de março de 1899 Manuel Alves Branco comprou também uma parte de uma quinta situada na Guarda da Queimada, ao Espinheiro, com casas, lagar com dependências e terreno com vinha velha e oliveiras dispersas, que confrontava a Sul com o muro alto do Convento do Espinheiro e campo do Espinheiro, a Norte com a azinhaga que conduzia à Herdade do Paço das Vinhas, de Poente com a mesma azinhaga e campo do Espinheiro e do Nascente com a Quinta da Queimada.

Em 1914 fez um alerta à Comissão Concelhia dos Bens das Igrejas de Évora sobre a usurpação por parte da Junta da Paróquia da Sé de inúmeros objetos pertencentes à Igreja do Espinheiro.  A comissão expôs o caso superiormente à Comissão Central de Execução da Lei da Separação de Lisboa e foi deliberado que a comissão tomasse posse do edifício da Igreja do Espinheiro e dos objetos pertencentes à mesma. A Comissão Concelhia dos Bens das Igrejas de Évora resolveu, pela imensa consideração existente pela pessoa de Manuel Alves Branco, que “alimentava um enorme culto pela arte”, que este ficasse como guardião do referido templo, como já anteriormente fazia.

Manuel Alves Branco faleceu em Évora a 30 de setembro de 1940, na freguesia de São Pedro, com 87 anos.

O falecido deixou um testamento cerrado redigido a 30 de novembro de 1928.

No dia 1 de outubro de 1940 o notário Augusto de Jesus Gomes Leal procedeu à abertura do testamento do falecido, na casa de residência do mesmo no Largo Dr. Manuel Alves Branco. O testamento foi apresentado por Hipólito Fernandes Álvares, médico e Governador Civil de Évora, que o tinha em depósito no Governo Civil do Distrito de Évora.

A leitura do documento revela o seu caráter benemérito e filantropo pelo qual era conhecido e respeitado no meio eborense, deixando avultadas esmolas às instituições de caridade da cidade de Évora (Misericórdia, Casa Pia, Asilo de Infância Desvalida, Creche e Lactário, Associação Dinheiro dos Pobres e Associação Damas da Caridade), ordenou que aos pobres da cidade fossem entregues duzentas esmolas de 50 escudos e de 520 escudos, para serem distribuídas nos 90 dias a seguir ao seu falecimento, deixou também 100 mil escudos para serem distribuídos pelos empregados, e familiares destes, que vivessem em propriedades que lhe pertenciam. Doou a Manuel Joaquim Grave as propriedades denominadas Sobralinho, Casas Novas, Centieira, Carvalhais, Figueiras e Zambujeiro, com a obrigação de o mesmo dar durante 10 anos, pelo Natal, 600 esmolas de 20 escudos e 610 escudos aos pobres das quatro freguesias de Évora. Deixa ao seu amigo António Joaquim Faria o seu Convento do Espinheiro, com os anexos que lhe pertenciam, com o encargo de mandar dizer missas nas Igrejas de São Francisco e do Espinheiro na data do seu falecimento, e de fazer a limpeza e conservação da Igreja do Espinheiro como ele próprio sempre havia feito. Por fim nomeia seu testamenteiro José Domingos Mariano, a quem legou o remanescente dos seus bens, direitos e ações.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fontes:

https://digitarq.adevr.arquivos.pt/viewer?id=1303354  – Processo de matrimónio;

–  https://digitarq.adevr.arquivos.pt/details?id=1001107– Registo de casamento

(Ref.ª da imagem: PT-ADEVR-PRQ-EVR12-002-0065_m0031.tif);

– Cartório Notarial de Évora, SR: 001 – Livros de notas, liv. 1977, f. 96  ao f. 99Vº – Escritura de partilha amigável entre Manuel Alves Branco e a esposa

(Código de ref.ª: PT/ADEVR/NOT/CNEVR/001/1817)
– Sociedade Harmonia Eborense, Secção: B -Sócios, Série: 002 – Registo de sócios, Cx:8; UI: 1, f. 38 vº – registo de sócio;

– Cartório Notarial de Évora, SR: 001 – Livros de notas, liv. 1777, f. 46 vº e 47 – Arrendamento da Quinta do Espinheiro

(Código de ref.ª: PT/ADEVR/NOT/CNEVR/001/1685)

https://digitarq.adevr.arquivos.pt/details?id=1005034 – Testamento

(Ref.ª da imagem: PT-ADEVR-NOT-CNEVR-006-0028_m0170.tif)

– Conservatória do Registo Civil de Évora, SR: C – Óbitos, SR: 007 – Livros de extratos de registos de óbito, liv. 32, f. 91 – Extrato do registo de óbito;

https://purl.sgmf.gov.pt/136012/1/136012_master/136012_PDF/136012.pdf – Escolha da Comissão Concelhia dos Bens das Igrejas de Évora para que Manuel Alves Branco ficasse como guardião da Igreja do Espinheiro

Esta notícia foi publicada em 14 de Outubro de 2024 e foi arquivada em: Documento do mês, Documento em destaque.