14 de Abril de 2025
Documento do mês de abril de 2025
Capela de Nossa Senhora dos Reis
No dia 18 de abril comemora-se o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. São muitos os países e instituições que realizam atividades com o objetivo de sensibilizarem a sociedade para a importância da proteção e valorização do património cultural.
Sendo o arquivo uma instituição responsável pela guarda, preservação e divulgação de um vasto património documental, utilizado por investigadores e historiadores no estudo e compreensão do património edificado existente e na recuperação da memória do património que, de algum modo, desapareceu ou sofreu alterações ao longo dos séculos, destacamos uma escritura do “Livro de Notas” de Baltazar de Andrade, tabelião público da cidade de Évora, que é o testemunho da importância da consulta dos fundos dos cartórios notariais na recuperação da memória do património inexistente ou alterado ao longo dos anos.
Estamos a falar da escritura do contrato de empreitada de uma capela, a que chamaram “Capela de Nossa Senhora dos Reis, mandada edificar, em pleno centro da cidade de Évora, no final do séc. XVI e que no séc. XIX, após ter sido adquirida por particulares em 1827. Foi sujeita a grandes reformas que desvirtuaram estruturalmente o aspeto da obra original.
A Capela de Nossa Senhora dos Reis foi mandada erigir defronte da cadeia civil da cidade, situada na época junto aos Paços do Concelho (Câmara Municipal), na Praça do Giraldo, e no início da Rua da Cadeia ou das Estalagens (atual Rua Romão Ramalho), “… para consolação dos presos…”, ou seja, para que os presos pudessem ouvir missa.
O contrato de empreitada da obra da capela foi celebrado a 6 de julho de 1592 entre Baltazar Mendes dos Reis, casado com Maria Moncalve Loba, e Manuel Gomes, pedreiro e mestre de obras, todos moradores na cidade de Évora.
Baltazar Mendes dos Reis pediu aos governadores da cidade que indicassem o local mais conveniente para se fazer a capela, os quais sugeriram que fosse construída no canto da Casa dos Estaus, defronte da cadeia. A Casa dos Estaus era propriedade do Rei e por isso tiveram de pedir o aval ao monarca para a execução da obra.
O empreiteiro Manuel Gomes foi contratado por 60 000 réis, valor que já incluía o preço dos materiais necessários e a subcontratação de outros oficiais para realizar a obra.
No contrato consta a descrição arquitetónica detalhada da capela, de ressalvar a construção das janelas no canto do edifício, divididas por uma coluna no meio, uma virada para a praça e outra para a Rua da Estalagem, virada para a cadeia. Ao longo do documento é citado não só o design das referidas janelas, das colunas, dos capitéis e frisos das mesmas (de obra dórica), bem como os materiais utilizados na execução da obra como o mármore “…tudo de pedraria/ branca digo toda a dita janella de pedraria branca/ destremoz bem lavrada e bornida…“. Determinou-se que, se a utilização da pedra não fosse possível, se utilizasse tijolo novo guarnecido de estuque “… muito perfeito e acabado…”. Indicou-se, ainda, que o chão da capela seria no primeiro andar por cima da abóbada da cobertura das escadas, onde se colocaria os ladrilhos, e que o portal da capela seria feito de pedra parda dos melhores cunhais, entre outros detalhes da construção que nos permitem fazer a reconstrução da extinta capela.
Fundo: Cartório Notarial de Évora, liv. 271, f. 11Vº a 14vº
Link: http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=25128